sexta-feira, 27 de março de 2015

A importância dos contos infantis

                                                                   Era uma vez…

Para a criança o mundo nasce da sua interação com o mesmo. Ou seja, o mundo é visto através da sua envolvência. Numa fase inicial, o mundo da criança gira apenas em torno da sua mãe, e posteriormente vão surgindo todos os outros elementos.
O mundo simbólico, ou seja, a capacidade de compreender o mundo através de elementos representativos, surge aproximadamente entre os dois e os três anos, altura em que a criança começa a “construir” brincadeiras. Anteriormente, as pessoas e objectos apenas existiam quando a criança estava em contacto com as mesmas, apenas quando as ouvia, cheirava, saboreava ou tocava. Com esta aquisição, nasce também o mundo da fantasia, a capacidade de imaginar e de experienciar situações, sem que esteja em contacto directo com as mesmas.
É também através deste mundo imaginário que a criança vai criando, que ela vai elaborando as suas necessidades conscientes e inconscientes. Desta forma, tornam-se tão importantes os espaços lúdicos, espaços onde a criança possa representar o seu mundo. E é também nesta representação que a mesma o vai conhecendo.
Nesta altura, destacam-se de grande relevância os contos infantis, sendo que a criança adquire uma melhor compreensão do mundo através da fantasia. Através das histórias a criança tem a possibilidade de se identificar com os personagens e também com os problemas das mesmas, sem estar próxima deles, de forma inconsciente. As histórias permitem que a criança tenha contacto com situações, que de uma forma indireta, são em tudo semelhantes às do quotidiano. E é nesta experiência, em que surgem os lobos maus, as bruxas, os meninos que se perdem dos pais, que a criança tem contacto com angústias do seu dia-a-dia, tendo a possibilidade, nas histórias, de se sentir tranquila ao contactar com os finais felizes. Afinal, todas as crianças têm contacto com situações que as assustam, que lhes metem medo. Neste contacto indireto, poderá surgir a possibilidade de a criança se identificar com personagens com 'personalidades' diferentes da sua e também situações angustiantes que se possam assemelhar a situações que lhe sejam próximas, com a vantagem de que nos contos há um final feliz.
Este final feliz não surge como a imagem de que tudo corre sempre bem, mas antes com o objectivo de transmitir alguma tranquilidade, por exemplo: na historia do Hansel e Gretel, os irmãos perdem-se na floresta, o que pode remeter para a situação da criança que se está a tornar autónoma e independente e tem medo de ficar só, abandonada. No fim estes encontram o pai, que os abraça, e este final feliz surge com uma mensagem de segurança, como se os pais estivessem sempre lá. Para a criança, é de extrema importância sentir que tem uma base, um apoio forte e seguro dentro dela, que lhe permite avançar para explorar o mundo. E é neste sentido que surgem os finais felizes.
Simultaneamente, os contos infantis dão tranquilidade à criança que imagina sobre eles. Os contos infantis são também uma forma de permitir que a criança sonhe, e por isso podem ser utilizados como forma de tranquilizar a criança antes de dormir.

Margarida Garcia
Psicóloga Clínica
Cédula profissional n°11533
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MITOS SOBRE A IDA AO PSICÓLOGO

A procura de apoio psicológico consiste, por vezes, num pedido de ajuda. A este pedido é geralmente dada toda a importância. Entende-se, que não são raras as vezes, em que este aparece como um grito de socorro e num contexto de vergonha e de medo. Este pedido de ajuda ocorre quando alguém não se sente bem, tem dificuldades em entender-se a si mesmo e isso causa-lhe transtorno. Todos nós, em algum momento da nossa vida, nos questionámos sobre o porquê de termos feito aquilo ou sentido daquela maneira. Mas por vezes esta dúvida persiste e parece não ter resposta, parece que nos deixa uma angústia com a qual não sabemos lidar.

Ao psicólogo cabe o papel de ouvir, de compreender, e acompanhar o seu paciente na percepcão de si mesmo, nesta transformação e construção. Salienta-se que este acompanhamento não consiste em dar as respostas, em dizer se fez bem ou mal, mas antes em orientar o pensamento da pessoa, ajudá-la a responder-se a si mesma. E aqui surge por vezes a questão se o psicólogo dá respostas. Não!

Na psicologia não se pretende que o terapeuta assuma a responsabilidade dos atos e pensamentos do outro, mas antes que este ajude os seus pacientes a refletirem e autodescobrirem-se. O psicólogo procura que o paciente em terapia se oiça a si mesmo, oiça aquilo que diz e que às vezes parece que não diz, e que desta forma encontre as suas respostas. Fazendo uma comparação: se uma criança em idade escolar perguntar como se lê uma palavra e lhe responderem que é assim, ela apenas saberá a palavra naquele sítio e não a entenderá. Desta forma, se voltar a aparecer a palavra ela não a saberá ler e terá de procurar ajuda novamente, também não reconhecerá as letras e por isso se as vir noutras palavras não terá autonomia para tentar saber, e ainda, caso lhe tenham dado mal a resposta a responsabilidade será de quem lhe disse e não dela.

Segundo Maria Rita Leal "o profissional de psicologia deseja ajudar alguém a encontrar o caminho para promover dentro de si mesmo o seu potencial humano (...) assume o compromisso de acompanhar pessoas na difícil busca de liberdade e de realidades interiores...". Assim, o processo terapêutico consiste num processo de crescimento interno do paciente em psicoterapia. Este é um processo gradual e que para cada pessoa tem o seu ritmo.

Neste processo de crescimento também é necessária uma adaptação, pois a forma como um adulto fala é diferente da forma como a criança comunica. Para a criança nem sempre é fácil traduzir por palavras aquilo que sente e, por isso, o terapeuta recorre também à linguagem da criança: os brinquedos. O psicólogo, através de brinquedos específicos acede ao mundo da criança, comunica com ela ajudando-a a compreender-se a si mesma através de situações que lhe são familiares e as quais ela traz para este contexto.

A ida ao psicólogo, bem como a exposição dos problemas pessoais ao mesmo, não deve ser temida. Por vezes as questões sentidas parecem “ridículas” para o próprio, mas estas podem ser as mesmas de outras pessoas e a ajuda de um técnico especializado é seguramente essencial no desenvolvimento pessoal, ao nível do auto-conceito e do bem-estar.


Margarida Garcia
Psicóloga clínica

Cédula profissional n°11533

terça-feira, 24 de março de 2015

Hiperatividade: Diagnóstico ou Sintoma?


“Receio que não haja crianças hiperativas mas adultos com défices de atenção.” Eduardo Sá, Revista Pais & Filhos 

As opiniões dividem-se! Enquanto uns fazem uma abordagem puramente biológica – como é o caso dos Estados Unidos, onde a taxa de incidência de TDAH (Transtorno do Défice de Atenção com Hiperatividade), ronda os 9% da população infantil em idade escolar -, outros adotam uma perspetiva psico-social, compreendendo a questão à luz de problemáticas situacionais – sendo exemplo disso a França, em que os diagnósticos são inferiores a 0,5%.
A hiperatividade por si só não encerra um diagnóstico, mas é antes um sintoma. E pode ser um sintoma de variadíssimas questões:
1.       Simplesmente ser criança: as crianças mexem, pulam, gritam, brincam, correm, cansam quem observa de tanta atividade, mas não se cansam. Não são adultos, são mesmo assim: CRIANÇAS! Saudavelmente, crianças!
Quando, ainda assim, parece ser uma agitação excessiva, a lista pode continuar:
2.       Excesso de atividades: Pode acontecer que a agenda semanal da criança está tão sobrecarregada de atividades, que a própria criança entra num ritmo de agitação provocado por não ter mais momentos de puro lazer e descontração. Por muito atrativas e apreciadas que as atividades sejam, é importante priorizar algumas para que a semana não seja vivida num corrupio de horas de entrada e saída do que quer que seja.
3.       A hiperatividade também surge no registo do chamado “fuga para a frente”, isto é, a criança que não está bem por alguma razão e age muito para não pensar. É o sentir que “não posso parar”. Às vezes até chegam a conseguir relatar que não conseguem parar (o que também dá indícios sobre o mal estar).
Naturalmente que uma criança mais “agida”, terá mais dificuldade em concentrar-se. Especialmente se a agitação estiver relacionada com algum desconforto. Nesse caso terá outros indícios, como não conseguir ver um filme completo (quando pela idade isso é já esperado); mudam rapidamente de brincadeira e de brinquedo, como se se cansassem facilmente do que têm; dormem pouco; parecem compreender as regras, mas habitualmente não as cumprem, etc.
Ponderando o cenário acima descrito, e percebendo que a hiperatividade por ser significado de um mal-estar associado, como será possível a concentração? Utilizando uma expressão popular, se a criança “ está tão preocupada com os seus botões”, e canalizando a sua energia para a ação, como sobrará para estar atenta? Percebe-se, assim, a habitual relação feita entre os dois sintomas: Hiperatividade e Défice de Atenção.
Todos nós sabemos que, ao tomar um analgésico, a razão da dor não desaparece. O que é eliminado é simplesmente o sintoma. Acontece, então, que o problema subsiste, só anulamos o sintoma que dá expressão a esse problema. Exemplo: um analgésico elimina uma dor de cabeça, mas (imaginando que essa é uma dor provocada por falta de visão) não corrige a questão oftálmica – atua somente no sintoma, não na raiz do problema. Precisamente o que se passa com a medicação aplicada à Hiperativade e/ou ao Défice de Atenção.
Atualmente, os diagnósticos de TDAH somam-se e multiplicam-se a uma velocidade preocupante e as crianças, adicionalmente ao rótulo, recebem medicação para anular a agitação e garantir a concentração. Resolve o problema? Não! Quando param a medicação, mantêm o mesmo padrão de comportamento – a medicação age exclusivamente sobre o momento da toma e sobre o comportamento (sintoma). Não age no que origina o comportamento hiperativo e a dificuldade de concentração. Conseguem melhores resultados escolares? Sim! Enquanto tomam o medicamento, os níveis de atenção são aumentados, o que garante maior segurança no sucesso escolar. Isso justifica que se medique sem compreender o que está na base do desenvolvimento de um comportamento menos adequado? Discordo, em absoluto!
Alexandra Silva Nunes
Psicóloga / Psicoterapeuta
Cédula Profissional nº 3347

E-mail: alexandrasilvanunes.psicologia@gmail.com


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